A Ética é a ciência da moral. Significa dizer que a
ética deve tratar dos costumes ou dos deveres do homem para com seus
semelhantes e para consigo mesmo. Entretanto essa afirmação se amplia e conseqüentemente
se torna mais valiosa quando se quer, de maneira comparativa, verificar de como
a ética pode ser vista numa comunidade religiosa de matriz africana.
Ali essa ética se amplia pelo
fato de se ter que incluir à sua própria definição mais um elemento merecedor
dos deveres do iniciado, além dele próprio, e de seus semelhantes. Trata-se da
divindade ou das divindades de sua comunidade. Principalmente a sua própria
Divindade.
Assim teríamos uma ética
particular para a religião afro brasileira a qual teria basicamente como
objetivo ‘Tratar dos costumes e dos deveres do homem para com seus semelhantes,
para consigo mesmo, e para com suas Divindades.
Não se pode negar que, uma vez
ampliada, essa nova ética se faz muito mais valiosa visto que assim, com a
ilusão de uma força maior, ela deixa de ser discutível no mesmo nível da ética
comum, da ética desgastada e sem valor religioso. Não seria cansativo repetir, então,
que a ética da religião afro brasileira é uma ética especial. A partir daí é
que poderemos entender a responsabilidade do participante, iniciado ou não,
comunitário religioso, na preservação do sagrado.
Essa preservação abrange
obrigatoriamente todos os pormenores da ritualística de iniciação e continuação
da vida religiosa do sacerdote dessa religião, passando pela não divulgação do
sagrado, dos costumes e dos deveres de
um para o outro.
A manutenção do segredo é o ponto
mais alto na construção da ética do candomblé. É o segredo do asé que evita a
banalização do sagrado.
Durante séculos os seguidores do
culto afro brasileiro mantiveram seus rituais com credibilidade através da não
divulgação dos pormenores que compunham o mistério das ações e dos resultados.
Mesmo porque pelo juramento efetuado no momento da iniciação de cada um, ficara
claro ser proibido revelar ou até comentar o que quer que fosse, com estranhos,
com respeito ao lado de dentro do abassá. Dessa forma o culto as Divindades
afro brasileiras atravessou um longo período de ameaças e perseguições e chegou
ao século XIX ainda possuindo a sua essência.
Agora as ameaças são outras,
porém, tão fortes quanto as do passado. Se no passado as ameaças partiam tanto
da sociedade como do próprio Estado escravagista, agora essas partem de dentro
da própria comunidade religiosa. São os mercenários do Candomblé. São os que
vendem e deturpam parte dos rituais religiosos, os que copiam os cânticos e as
rezas e os transformam em espetáculos musicais para o teatro e para o carnaval.
São os que a troco de quarenta
moedas iniciam falsamente figuras de destaque da sociedade as quais
utilizam que percebem dentro da
comunidade, para falsos escritos em nome da cultura.
Ser ético é respeitar os costumes
do outro e fazer respeitar o do um. O seu próprio.
Dentro do candomblé essa
afirmação ganha uma dimensão muito maior do que se possa imaginar. Muito maior
e mais nobre, pois ela nos conduz ao respeito às diversidades. E respeitar o
diverso é o caminho para a convivência universal.
Everaldo Duarte – Agbagigan –
Membro da Siobá.