13 de junho de 2013

Pai de Santo luta por seus direitos

Da esq.  Sátiro/ Valdo(Semur/ Walter Rui/ Roberval/ Mattos e Pai Jeferson. 


Membros da Irmandade Siobá, juntamente com   o assessor Valdo da Semur (Secretaria Municipal da Reparação)  que é liderada por Ivete Sacramento e os assessores da vice-prefeita Celia Sacramento e do vereador Silvio Humberto estiveram presentes  na tarde da última quarta-feira,12, no Ilè Asé Onà Ogun Mejè, em Jaguaripe/ Cajazeiras, atendendo a um pedido do Babalorisá Jeferson de Ogun.

 Segundo o zelador de santo ele tem sido alvo de intolerância religiosa e ofensa moral que estariam partindo de um vizinho do terreiro. O vizinho que atende pelo nome de Nel, alega que não há nenhum tipo de discriminação por parte dele contra o religioso de matriz africana.

Segundo Pai Jeferson, o terreiro, foi construído antes da chegada do vizinho e este, por conseguinte se ‘aproveitou de uma parede construída para o quarto de um santo e começou a subir sua casa’, como houve reformas e ampliações deste quarto o vizinho passou a reclamar de rachaduras em sua parede alegando que o problema era por causa da obra realizada pelo terreiro.

Além deste impasse ainda há trocas de acusações de ambos em relação a pedras que foram atiradas sobre seus telhados. Pai Jeferson, alega que os buracos no telhado do barracão foram causados pelo vizinho e por sua vez o vizinho acusa filhos de santo do Babalorisá de também jogarem pedras em sua casa.


Depois de ouvir ambos os mediadores conseguiram que os dois se comprometessem a não incomodar um ao outro e sim tentar conviver em harmonia, vez que, ambos estão sendo prejudicados neste processo de enfrentamento.

De toda forma é juridicamente legal toda e qualquer manifestação religiosa seja qual for a origem. Está na Constituição do Brasil o livre exercício da prática religiosa de qualquer individuo. E em hipótese alguma, nenhum poder público, polícia, prefeitura, cidadão civil ou mesmo quaisquer organizações sociais podem impedir que o religioso pratique seus rituais.  

Desde um padè para Esú, despachado na porta do candomblé, até a realização das festas religiosas para os orisás. Não há nenhuma lei ou critério que proíba sua prática. Esta discussão foi provocada por Pai Jeferson quando questionado pelo vizinho sobre a farofa de azeite de dendê que por vezes aparecem na frente do asé.

Quanto à acusação de intolerância negada desde o início pelo vizinho, no final da conversa Nel disse até gostar da religião e freqüentar uma festa ou outra, inclusive na própria casa de Pai Jeferson.
Ficou acordado entres os conciliadores, o Pai Jeferson e O vizinho Nel um novo encontro para verificar se ambos estão cumprindo o que fora prometido.
  




Ivana Flores

7 de junho de 2013

O feminismo negro de Paulina Chiziane


Paulina Chiziane: escritora moçambicana

Se a literatura escrita por mulheres já é um mundo diferente, abordado por ângulos que romancistas e contistas homens dificilmente veem, imaginemos, então, o que pode ser o mundo visto por uma mulher africana, moçambicana, ainda mais se é governado por costumes e tradições que nos soam estranhos. Esse estranho e mágico mundo é o que oferece em seus livros Paulina Chiziane (1955), a primeira romancista negra de Moçambique.

Diz-se aqui primeira romancista negra porque não seria correto chamá-la de primeira escritora moçambicana, pois Lília Momplê (1935), nascida na Ilha de Mo­çambique, autora de livros de contos e de uma biografia, professora, funcionária da Unesco e ex-secretária-geral da Associação dos Es­critores Moçambicanos, apareceu antes dela, já à época pós-In­dependência. E é provável que haja outras moçambicanas autoras de livros. Acontece que Lília Momplê, descendente de macua, é mestiça, carregando sangue europeu nas veias. E, se o critério for o de uma suposta africanidade, Paulina seria a primeira negra escritora de Mo­çambique, mas definitivamente não é a primeira moçambicana escritora.

É claro que estes “divisionismos cromáticos” não levam a nada, até porque ninguém seria mais ou menos moçambicano por causa da cor da pele. Seja como for, o que se sabe é que na sociedade moçambicana destes dias há duas versões para esta questão: uma para consumo interno (que nem todos são tão escuros) e outra para consumo externo (mais abrangente).

Isto sem contar certos “paternalismos colonialistas” que levam escritores de Moçambique e An­gola, com raízes mais europeias do que afrobanto, a encontrar melhor recepção na indústria editorial, além de maior divulgação pelos meios de comunicação da antiga metrópole e do Brasil. Ou será que é só por falta de informação ou coincidência que na universidade brasileira, durante encontros sobre literatura africana de expressão portuguesa, só se fala em Mia Couto (1955), José Eduardo A­gualusa (1960) e Pepetela (1941)?

Afinal, não se pode dizer que Paulina Chiziane seria desconhecida no Brasil. De Paulina, a Companhia das Letras, de São Paulo, em 2004, lançou o romance “Niketche. Uma História de Poligamia”, que a Editorial Caminho, de Lisboa, publicou em 2002, enquanto seus outros livros ainda aguardam a boa vontade de algum editor brasileiro.

Nascida em Manjacaze, na província de Gaza, ao Sul de Mo­çambique, Paulina viveu no campo até os sete anos, quando se mudou para os subúrbios da cidade de Maputo, onde frequentou estudos superiores de Linguística na Uni­versidade Eduardo Mondlane, sem concluí-los. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas chope e ronga.

No campo falava a sua língua materna, o chope, e, quando se mudou para a cidade, teve de aprender o português na escola, enquanto era obrigada nas ruas a falar o ronga, a língua nativa de Maputo. “Sou chope, o meu pai era alfaiate de esquina, só depois arranjou uma barraca. A minha mãe sempre foi camponesa, às vezes ficava uma semana sem vir à casa, a tratar da machamba (plantação de mandioca).” A voz da escritora moçambicana Paulina Chiziane é serena, mas o orgulho das origens é indisfarçável.

Aprendeu a língua portuguesa na escola da missão católica. Aos 20 anos, cantou o hino da independência moçambicana, gritou contra o imperialismo e o colonialismo e, depois, com a guerra civil (1975-1992) que arrasou o país, desencantou-se. Por isso, os seus livros nem sempre falam diretamente da guerra, mas de um país destruído, da miséria de seu povo, da superstição, dos rituais religiosos e da morte.

Participou ativamente da vida política de Moçambique como membro da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), na qual militou durante a juventude, tendo sido eleita nas primeiras eleições multipartidárias em 1994. Mas trocou a vida partidária para se dedicar à escrita, ao trabalho na Cruz Vermelha e à publicação das suas obras, provavelmente, desiludida com o machismo que ainda marca as relações políticas no país. 

Em seu último livro, “O Alegre Canto da Perdiz (2008), além dessas questões que marcam a secular submissão da mulher ao universo do homem em certas sociedades africanas, Paulina leva o leitor a confrontar-se também com a questão do reducionismo praticado por quem olha a África de fora e procura apresentar a sua história e sua literatura como se o continente africano se tratasse de um só país, tal como denunciou a escritora nigeriana Chimamanda Adichie (1977) em seu discurso contra o perigo de se ouvir e repetir uma história única, a dos vencedores.

Como muito bem observa Nataniel Ngomane, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Uni­versidade Eduardo Mondlane, no posfácio que escreveu para este livro, Paulina, se não é a primeira, com certeza, é a voz que mais alto se eleva hoje para recuperar temas “esquecidos” por aqueles autores africanos de expressão portuguesa cujas raízes remontam ao colonialismo — ainda que sejam críticos ou tenham lutado contra o colonialismo —, ao aflorar temas como o racismo, a assimilação, a subjugação de valores africanos aos valores europeus, a poligamia, as relações de subserviência não só no lar, mas entre nações e grupos étnicos.



Matéria Original: Jornal Opção

5 de junho de 2013

Só para falar de amor

Permita-me solicitar suas bençãos  de exú a oxalá, o reino da vida é para os que têm fé a comprovar. Ofereço o meu coração como instrumento da comunicação, pedindo a esses nossos deuses agô e axé.

Por desejar que o sentimento chamado de amor seja sempre a mola mestra da nossa possibilidade de aprender, eu espero que minha dedicada mensagem ajude-nos a pensar, com mais carinho, mais cuidado e mais respeito, sobre o que estamos fazendo aqui neste planeta chamado Terra.

A minha expectativa como homem filho de orixá, é que precisamos adquirir a consciência que somos pessoas do candomblé, religiosos da vida. Não admito a falta desta certeza, para quem já desfrutou de momentos mágicos em um ronkó.

Tenho certeza que a tristeza não convive comigo, mas, ela me comove e angustia, quando noto a fraqueza que alguns de nossos irmãos se permitem sentir, só por não comungarem na fé da existência da proteção, que os nossos orixás nos dispensam.

Vivemos fragilizados porque, em muito de nós, atua o pensamento equivocado, de tentar ser o que não podemos, não devemos e não necessitamos com relação à vida real. Muitas coisas acontecem por falta de amor pelo que somos por falta da fé e pela contrição aos nossos deuses africanos.
Tudo passa por uma questão muito simples, aceitar e construir sua trajetória e caminhar pelos desígnios dos que nos ilumina, aceitando a sua herança étnica como o que de maior valor pessoal possamos ter. Somos o que descobrimos dentro de nós e o que estar dentro de nós é o que nos dá vida, isto é, a energia do orixá.
Diferentes de muitos outros religiosos, no mais profundo da minha fé, eu só acredito em orixá. De orumilá, olodumare e odudua, eu amparado por meu pai oxoguiã, escolhido por ogún, para erigir suas armas, instrumentos ou ferramentas de luta e de lida, trabalhar, zelar, honrar e executar a missão que eles me determinem.

Nesta posição, com este reconhecimento, tenho certeza de que trilharei todos os caminhos que precisar para firmar cada vez mais, o meu respeito, a minha fé o meu amor pela convivência e harmonia com os meus orixás. E por mim sentir neste universo de luz e bênçãos espirituais é que caminho sem temor algum, em toda e qualquer estrada desta vida terrena, com a certeza do enxergar com os olhos do meu interior. A mesma certeza que tenho que não há ausência de luz em nenhuma estrada que trilho ou trilharei. Por mais escura que a noite exista, ela será sempre o manto bordado de estrelas da nossa mãe yansãn.

Como filho de orixá, muito cobro de mim, por entender que é necessário cuidar da conduta, enquanto membro da família de candomblé.

Não somos, por mais que não pensemos nisso, pessoas comuns neste mundo em que estamos vivendo, não melhor ou pior do que nenhuma outra pessoa, mas, com realidades profundamente diferentes.

Por isso, meus irmãos e irmãs de candomblé, vos falo por força da vontade do meu coração. Este mundo aqui fora, não pode nos tornar pessoas com vidas apodrecidas.

Assim reafirmo, é necessário cuidado sempre de nossa conduta, junto a todos e em todos os ambientes, comunidades e caminhos.

E o que é preciso fazer, para zelarmos da conduta com a consciência de filhos de orixá? Ter fé, ter contrição, ter confiança, ter coragem, ser humilde, ser simples, ter honra, ter respeito por si e pelos outros. Pensemos nisso.

A nossa religião, culto aos orixás, nos ensina a sermos fortes, invencíveis, incansáveis, sinceros, honestos e senhores da simplicidade.

Ela, a simplicidade, é a força real da natureza de filhos de orixá, vivida com conhecimento, com base na sabedoria. Pois, sem sabedoria seremos eternamente cegos para a vida, e a vida se traduz em orixá.

Daqui de onde me noto, me alegro, sou segredo, sou mistério, sou o manuseio dos elementos oferecidos pela mãe natureza, para ajudar na eliminação da doença, do mau olhado, do agouro, da falsidade, da agonia, da maldade, sou feitiço no dito popular, na real sou magia, a força das águas que brota de todos os pontos desta terra. Sou filho de orixá.

Planto cuidando do que tenho que plantar, pois tenho certeza que colherei os frutos e flores do meu semear. Sou filho de oxalá.



     Walter Rui                                                                                        Revisão: Ivana Flores
Asogún D' Ogún