26 de abril de 2013

Ialorixá Mãe Stella de Oxóssi é a nova 'imortal' da Academia de Letras da BA

                                             Imortal da Academia de Letras da Bahia



A ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, Mãe Stella de Azevedo dos Santos, também chamada de Mãe Stella de Oxóssi, a partir desta quinta-feira (24), passa a ocupar a cadeira de número 33 da Academia de Letras da Bahia.

A mãe-de-santo recebeu 22 votos dos acadêmicos em sessão realizada nesta quinta-feira (25) com objetivo de escolher o novo nome para vaga deixada pelo historiador Ubiratan Castro, que morreu em janeiro.

Mãe Stella foi comunicada pelo presidente da Academia, Aranis Ribeiro Costa, e aceitou ser a nova "imortal". "Acredito que é a primeira vez que uma mãe-de-santo entra em uma Academia de Letras. Isso é absolutamente pioneiro, não tenho conhecimento disso em nenhum outra do Brasil ou do mundo. Representa o reconhecimento de uma cultura, de uma raça e da história de um povo. É uma figura notável", comemora.

O poeta Castro Alves é o patrono da cadeira 33, que já foi ocupada por nomes como Francisco Xavier Ferreira Marques, Heitor Praguer Frois, Waldemar Magalhães Mattos, além de Ubiratan, que era presidente da Fundação Pedro Calmon.

A Academia de Letras da Bahia tem 40 membros, entre eles, João Ubaldo Ribeiro, José Carlos Capinan, Myrian Fraga, Cid Teixeira, Ruy Espinheira Filho, Consuelo Pondé, Hélio Pólvora, Florisvaldo Matttos e Edivaldo Boaventura.

Mãe Stella é colunista do jornal A Tarde e autora de livros como "Meu tempo é agora", "Òsósi - O Caçador de Alegrias" e "Epé Laiyé- terra viva". Em 2009, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).



Fonte: G1


2 de abril de 2013

'Música do candomblé não tem que ficar presa ao terreiro', diz idealizador do projeto Pradarrum


Tão sonoro quanto o nome, o projeto “Pradarrum”, lançado neste final de semana em Feira de Santana, firma raízes na matriz musical afro-religiosa da Bahia. Idealizado e dirigido pelo experiente músico, arranjador e pesquisador de ritmos Gabi Guedes – integrante da Orkestra Rumpilezz e da banda base do Jazz no MAM-BA –, juntamente com o seu sobrinho, o jovem guitarrista e arranjador musical Felipe Guedes, o projeto pretende mostrar a música do candomblé em sua plena conexão com a “world music”.
 
E o que significa Pradarrum? “’Rum’, a última palavra, é o atabaque maior, que tem a responsabilidade de evocar os orixás e, também, com suas variações, acompanhar o movimento da dança. ‘Darrum’ é quando o Ogan toca e canta para evocar os orixás: Você está dando "rum" ao orixá. Aí vem, o "adarrum", que é um ritmo sagrado que faz parte da religião do candomblé. O "pra" pode ser um paó, que é quando você tem duas notas quase que simultaneamente repetidas três vezes e é uma forma de agradecer. E aí, dentro de tudo isso, conseguimos essa palavra, que é bem sonora e é tudo isso junto”, explicou Gabi, em entrevista ao Bahia Notícias.
 
A parceria entre o tio e o sobrinho se iniciou bem cedo, desde os primeiros anos de vida de Felipe, que começou a tocar bateria aos dois anos de idade. A essa época, o projeto “Pradarrum” já estava gestado na cabeça de Gabi Guedes. “Eu já vinha tentando estruturar esse projeto muito antes de o Felipe nascer. Minhas viagens internacionais me fizeram estar à procura de um músico para tocar o projeto comigo. No entanto, não consegui achar a liga, o dendê para que eles tocassem com o mesmo sentimento que temos aqui. Deixei a ideia no coração e no papel. Quando eu viajei para a França para trabalhar em uma escola de percussão, eu comecei a rascunhar melhor a ideia.

 Voltei para o Brasil, encontrei o Jimmy Cliff, toquei com ele por diversas turnês internacionais durante dez anos. Depois de um tempo, senti a necessidade de retomar a ideia do projeto. Nesse meio tempo, pintou a Orkestra Rumpilezz e já são seis anos lá. Felipe queria integrar o baba e eu encontrei nele a pessoa que eu queria ter encontrado há muitos anos atrás, para poder mostrar essa música, que é a nova música de Salvador”, resumiu Gabi, que iniciou sua carreira artística no bairro da Federação, onde nasceu. “Aprendi a tocar os tambores ouvindo os sons dos terreiros”, lembrou.




                                                                   Foto: Bruno Santos

Nos próximos finais de semana, as cidades de Salvador (24, no Teatro Solar Boa Vista) e Santo Amaro (30, no Teatro Dona Canô) também receberão o projeto, que é integrado por oficinas e shows e foi contemplado pelo edital da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb). “A ideia é mostrar essa possibilidade de tocar as coisas que são do candomblé fora dos terreiros; tudo isso sem ferir muito o lado da religião, sem apresentar muito a coisa”, contou Gabi. Por isso, os temas das oficinas vão desde os toques de atabaques no ritmo de candomblé, passando pela construção de cuícas e consultoria para elaboração de projetos tal qual o próprio Pradarrum.
 
Durante a conformação do projeto, cerca de quatro computadores foram destruídos– “sem exagero!”, dizem em uníssono os músicos. Por outro lado, foi a partir daí que o projeto “Pradarrum” começou a ganhar forma e hoje já aparece como prenúncio de um disco homônimo. “Temos a necessidade de não deixar que esses ritmos desapareçam com o conhecimento de outros ritmos. Eu acredito que aqui na cidade, 80% dos músicos, na categoria de percussão e bateria, não conhecem a musicalidade do candomblé, do terreiro”, deduziu. Para Gabi, o alto índice de desconhecimento é gerado pelo preconceito.  “A música do candomblé não tem que ficar presa ao terreiro porque é do candomblé; é uma música do povo. A Igreja vive agradecendo. E nós, que somos natureza, temos muito a agradecer, sabe? A cantiga do candomblé, a música do candomblé, toda essa espiritualidade é para você agradecer o ar que você respira, o marzão, todas essas árvores, os rios...”, sintetizou.
 
Mas a síntese do projeto está mesmo em Felipe Guedes, que sem pertencer a nenhuma religião está ligado à proposta devido à música. “Eu tenho um pé lá outro cá justamente pela música. E essa é a linguagem do Pradarrum”, explicou. E apesar de as oficinas não serem voltadas para o público infanto-juvenil, este público não está vetado a participar. “Afinal, no terreiro é assim. Desde pequenos, via oralidade, as crianças vão aprendendo a tocar. Nem pedem para tocar e já vão batendo no instrumento”, defenderam.




Fonte: Bahia Notícias