30 de novembro de 2012

Terreiro de quase 30 anos pode ser destruído em Salvador


Uma das cenas mais horrendas da nossa história está prestes a se repetir. Ainda é forte na parede de nossa memória a triste imagem de Mãe Rosa, Yalorixá do Terreiro Oyá Onipó Neto chorando desesperada a dor de ter seu santuário destruído em 2008, numa ação racista da prefeitura de Salvador.
Após quatro anos, a história pode se repetir. O Ilê Axé Ayrá Izo, localizado no bairro de Brotas está prestes a ser destruído na próxima segunda feira (03/12), só que desta vez é através de uma ação penal de reintegração e posse, após o terreiro já está funcionando no local há mais de 30 anos.
Na determinação judicial fica estabelecido que para garantir a reintegração pode-se utilizar do aparato policial se for necessário..
São quase 30 anos de história que pode virar entulho se as lideranças religiosas e o povo do Axé da Bahia não agir imediatamente. O mais grave é que depois desse, muitos outros podem passar pelo mesmo processo.


Matéria  Original: CEN

29 de novembro de 2012

Benzedeiras: uma tradição de fé e cura


As rezadeiras tem remédio para tudo. Não há doença que não se cure. Espinhela caída, carne quebrada, cobreiro, quebranto, mal olhado, doenças nervosas, encosto, doenças físicas, todos esses males tem solução!

A tradição de cura através de rezas, banhos, chás e efusões, ainda é presente na sociedade moderna. Apesar de resistir a poucos lugares e quase nunca e
xistente nos grandes centros, a cura medicinal sem utilização de medicamentos farmacológicos, e a tradição das benzedeiras ainda possuem um grande prestígio, em especial nos cidades interioranas.

O cantar silencioso, e o chacoalhar de ramos de ervas, traduz a ciência de um povo, o conhecimento do cotidiano. Gripe, mal estar, doenças crônicas, ou até mesmos doenças sem curas, tem sido amenizadas pela utilização de receitas caseiras. O que a ciência leva anos em pesquisa, tentando encontrar a cura por exemplo do câncer, as benzedeiras, pelo seu conhecimento tradicional e cotidiano, já indicam as possíveis formas terapêuticas de cura, até nos caso desenganados pela medicina. Como explicar essa ciência popular? Como justificar a cura de doenças tidas como "incuráveis" pela utilização de ervas naturais, banhos e chás.

"As benzedeiras apelam para santos católicos, entidades de umbanda e personagens folclóricos brasileiros. Santa Luzia é evocada para curar males da visão. Com fé em Santa Brígida, a garantia do fim da dor de cabeça. Se engasgar, é só rogar por São Brás. O Preto Velho tira o mau-olhado de crianças. Aliar-se a São Jorge afasta ferimentos provenientes das lâminas frias de armas brancas. A Escrava Anastácia livra das perseguições e injustiças. Santos fortes para rezas fortes. Mas, garantem os religiosos, maior que qualquer santo é a fé de quem procura a bênção."

A cultura das benzedeiras é uma herança familiar. Geralmente numa mesma família, a avó, o pai, a mãe, e tias também compartilham deste "dom". Um conhecimento passado de geração para geração. “As rezas devem ser mantidas em segredo. Caso contrário, quebram-se as forças, perdem o poder” diz seu Galdino Ferreira da Silva, 79, de Cajazeiras (PB), rezador famoso na sua cidade.

Mas as rezas não servem somente para pessoas, até mesmo os animais podem ser livrados do mal. Cavalos, galinhas, cachorros, casas, objetos, propriedades, tudo pode ser "benzido".
As benzedeiras acreditam no poder de suas atividades e se propõe sempre dispostas a atender os que recorrem aos seus cuidados. “Não sei ler, nem escrever. Rezar para os outros foi uma das melhores coisas que aprendi na vida”, comenta Delecina Alves Pereira, 65, da Cidade de Ouro Preto (MG).


Podemos enumerar algumas situações ligadas as atividades das benzedeiras:

OS MALES E AS REZAS

Quebranto
Também conhecido como mal olhado. Provoca moleza em crianças, sono e irritação “Com dois puseram, com três eu tiro. Com as três pessoas da Santíssima Trindade, que tira quebranto e mau-olhado, pras ondas do mar, pra nunca mais voltar”

Espinhela caída
Dor na região do tórax, associada à debilidade física “Barquinho de Santa Maria navega no mar sem emborcar. Levanta a sua espinhela, põe tudo no seu lugar”

Carne quebrada
Dor muscular provocada por ferimentos internos “O que é que eu cosi? Assim mesmo eu coso, osso rendido, nervo magoado, veia sentida, carne quebrada. Assim mesmo eu coso, em louvor a São Frutuoso” A reza é feita enquanto se costura um pedaço de pano com agulha e linha.

Erisipela
Doença infecciosa, que provoca inflamação da pele “Ezipa, erisipela, deu no tutano. Do tutano deu no osso, do osso deu na carne, da carne deu na pele, da pele vai pras ondas do mar sagrado, com o poder de Deus e da Virgem Maria”


Texto de Pai Pedro De Ogum
Adaptado do texto de João Rafael Torres.